domingo, 20 de novembro de 2011

SONHADO MUNDO ILESO, NA CORRENTEZA DE UM MAR DE PECADOS...

I

Libertei-me de todos os compromissos
Que nos fazem sentir aves tão banais
E preenchem nossas faces sem sorrisos
Condenando os desejos especiais.

Transmiti-te meis créditos amorosos
Que guardava na gaveta do meu peito,
Mesmo aqueles, outrora tão saborosos,
Mas desenquadrados de qualquer conceito.

Tudo o que de bom tivesse era vazio,
(Pouco havia que pudesse cativar)
Como se um permanente calafrio
Me deixasse sem sorrir e sem sonhar.

Vida fora, vida dura, vida gasta,
Sem sentido, aos olhos da sã loucura.
Cada gesto tinha o peso da vergasta:
Chibatadas de sociedade impura.

Isolei-me das vergastas confundindo
Os meus sonhos com rombos de lucides
E em cada dor de alma fui sorrindo,
Aguardando por começar outra vez.

Quando o nada dominava o empírico
Veio a luz no fim do fundo da caverna.
Vi o mar derrotado pelo teu espírito:
Tua forma de combate muito terna.

A mão esquerda enlaçada ma direita:
Juntam forças numa mesma direccção.
Nessa estrada, ora larga ora estreita,
Não há nada perturbando a comunhão.

A distância fez a cama da grandeza
A tristeza molhou o vale dos lençóis.
Ma na rua em que vi tua natureza
Brilham estrelas aquecidas por dois sóis.

No meu corpo não havia já ferida
Que teimasse por não estar tão bem sarada,
Impedindo Santana de Parnaíba
De tornar-se na penúltima morada.

II

Fui contigo, de cabelo desvairado,
Ondulado, tal e qual os meus humores.
O semblante muito menos carregado
E na mala tuas predilectas flores.

O teu corpo, antes distante paisagem,
Brilhando em longínqua avenida,
Transportou, numa titânica coragem,
Um oásis eleito pra mar de vida.

Voei livre em redor do teu jardim.
Meu gorjeio respirava só poesia,
O teu bálsamo era uma flor de jasmim
Encharcando minhas penas de alegria.

E sem qualquer mordaça ou algum peso,
Condição "sine qua non" para ser feliz,
Mergulhámos no sonhado mundo ileso
E criámos nossa imortal raíz...

Ser feliz... e nada mais era preciso...
Nossas "guerras" tinham outro paladar:
Preenchidas no amor e no sorriso,
Nas doçuras e carinhos sem cessar.

Ser feliz... e nada mais faz diferença...
O presente com a distância na lembrança:
Quando o sonho reflectia uma crença
E a tristeza camuflava a esperança.

Ser feliz... é tudo o que podemos ser
Se olharmos para o que é essencial...
É que basta de uma vida a sofrer
E um dia atrás do outro, sempre igual.

(continua)

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